{{noticiaAtual.titulo}}

Fonte da imagem: https://medias.itatiaia.com.br/dims4/default/5275a7d/2147483647/strip/true/crop/327x184+0+17/resize/1000x563!/quality/90/?url=https%3A%2F%2Fk2-prod-radio-itatiaia.s3.us-east-1.amazonaws.com%2Fbrightspot%2F66%2F31%2F7d70ef484b0eb3938982e2ee7a8e%2Fmorte.jpg
A Morte de Ivan Ilitch — Meditações Tardias da Finitude
Reflexões sobre a vida e a morte a partir da obra clássica de Liev Tolstói, que revela a busca por sentido diante da consciência da finitude.
Não há morte mais pungente que aquela precedida pela consciência de uma vida mal vivida; é por esse itinerário sombrio que nos conduz A Morte de Ivan Ilitch, livro escrito pelo russo Liev Tolstói em 1886. A narrativa inicia-se no fim, durante uma pausa no julgamento de um processo, entre murmúrios protocolares de colegas e o odor abafado de um velório.
Vida de Aparências
Ivan Ilitch foi um homem que, durante décadas, seguiu os padrões de um bom cidadão: destacou-se nos estudos, conquistou reconhecimento social, e dedicou-se à função pública. Casou-se com Prascóvia e manteve a dignidade externa de quem cumpre com eficiência os papéis sociais. Contudo, sua vida, embora simples e comum, é descrita por Tolstói como terrível, pois era construída sobre aparências. A família funcionava como um teatro de decência social, o casamento era um pacto de sobrevivência, e o trabalho, um palco para vaidade disfarçada de dever. Não havia indignação, luta por justiça ou aventuras, apenas a repetição burocrática dos dias e uma paz feita de conveniências.
O Encontro com a Finitude
Um acidente doméstico banal, uma queda enquanto preparava a decoração da casa, transforma radicalmente a vida de Ivan Ilitch. A dor constante e o tratamento médico frio o fazem entender que sua doença não é só física, mas um reflexo da ilusão de sua existência. Ele percebe que foi fiel às expectativas alheias, mas nunca a si mesmo, e que não construiu relações verdadeiras. Sua esposa e os que o cercam fingem preocupação, mas evitam o confronto real com o sofrimento. A esposa, ao saber da doença, demonstra interesse apenas na pensão a ser recebida, evidenciando a superficialidade dos vínculos.
Gerássim: A Humanidade Simples
A única figura verdadeiramente humana na casa é Gerássim, um jovem camponês forte e bem-disposto que auxilia Ivan Ilitch nos cuidados mais íntimos. Gerássim não se envergonha do trabalho nem da morte, e oferece um afeto genuíno e gratuito, algo que faltou a Ivan Ilitch durante toda sua vida. Ele sorri e diz: “– Senhor! – Isto tudo deve ser muito desagradável para você. Desculpe-me. Não posso fazer nada! – O que é isso, senhor! – Não me custa nada. É um caso de doença. O que se vai fazer!”
Reflexões sobre a Vida e a Morte
O momento do velório é um dos pontos altos do livro, marcado por ironias que revelam a falsidade dos colegas, que fingem pesar e falam apenas para preencher o silêncio, como se a morte fosse um infortúnio que não os alcançaria. Ivan Ilitch, ao repensar sua vida, percebe a perda do tempo na busca por status e a ausência de sentimentos verdadeiros, mas encontra uma luz ao recordar a infância, fase de sinceridade e simplicidade.
O protagonista vive uma redenção não pelas glórias sociais, mas pelo reconhecimento humilde de sua humanidade, de seus erros e do amor tardio. Ele sente pena do filho e da esposa, que diante da morte, mostram suas próprias dores e desespero.
Mensagem Final
Esta reflexão sobre mortalidade e autenticidade convida o leitor a não se deixar consumir por luxo, prestígio e vaidades vazias. Gerássim, com sua simplicidade e aceitação da morte, simboliza a dignidade de quem compreende a finitude e busca dar sentido à vida. O poema do poeta mineiro Altino Caixeta de Castro reforça essa ideia, mostrando que o homem lúcido sabe da vida em sua complexidade, entre a dor e a beleza, e encontra nela o valor genuíno.