O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, anunciou uma investigação sobre práticas comerciais do Brasil, destacando, entre outros pontos, o sistema de pagamento eletrônico Pix. Embora o termo Pix não tenha sido citado diretamente pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), a menção às práticas relacionadas ao serviço de pagamentos do governo brasileiro gerou questionamentos.

Investigações e possíveis motivos

Especialistas indicam que um dos possíveis motivos para o interesse dos EUA seria o impacto do Pix, especialmente do Pix Parcelado, previsto para funcionar a partir de setembro, nas operadoras de cartão de crédito norte-americanas como Visa e Mastercard. A nova modalidade poderia levar muitos usuários a preferirem o Pix ao invés do cartão de crédito. Contudo, estudo recente do Google mostra que o Pix tem sido usado como complemento, e não substituto, ao cartão de crédito. Dados do Banco Central confirmam essa tendência, apresentando crescimento tanto do Pix quanto das transações com cartões em 2024.

Impacto no WhatsApp Pay e concorrência

Outro fator apontado é que a implementação do Pix interferiu no lançamento do serviço de pagamento do WhatsApp no Brasil. O Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam o WhatsApp Pay por riscos à concorrência e estabilidade financeira, o que gerou desconforto entre empresas americanas, incluindo a Meta, ligada a Trump. A liberação do serviço veio somente em 2021, quando o Pix já estava amplamente consolidado no país, dificultando a competição.

Pix como alternativa ao dólar

Para a economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, o Pix incomoda o governo dos EUA por representar uma alternativa ao dólar em transações internacionais envolvendo brasileiros. Países como Paraguai e Panamá aceitam pagamentos via Pix, o que reduz o uso do dólar e pode afetar seu valor devido à menor demanda.

Benefícios e papel do Pix na economia brasileira

Ralf Germer, CEO da fintech PagBrasil, defende o Pix como um sistema criado para solucionar problemas internos do Brasil, ressaltando seu sucesso e segurança. Ele destaca que o Pix modernizou os pagamentos digitais, facilitando o comércio e as compras online, eliminando a espera por compensação de boletos e oferecendo métodos eficientes como Pix Copia e Cola e Pix automático. Segundo Ralf, sistemas de pagamento instantâneo semelhantes ao Pix existem em diversos países, incluindo EUA com o FedNow.

Contexto da investigação dos EUA

Em 15 de julho de 2025, o governo Trump iniciou uma investigação sob a Seção 301 contra o Brasil por práticas comerciais injustas e supostos ataques às empresas americanas de redes sociais, incluindo restrições à prestação de serviços e represálias por não censurar discursos políticos. Na semana anterior, Trump havia ameaçado aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA. A investigação visa avaliar o impacto dos serviços de pagamento eletrônicos brasileiros nas empresas americanas.

O Pix em números

Desde sua criação em 2020, o Pix se tornou o meio de pagamento mais utilizado no Brasil. Em 6 de junho de 2025, quase 280 milhões de usuários movimentaram R$ 135,6 bilhões pelo sistema, marcando recordes históricos. O Banco Central destaca que o Pix representa quase metade das transações de pagamento no país, reforçando sua importância na economia nacional.