Em 1871, a Lei do Ventre Livre estabeleceu que os filhos de mulheres escravas nascidos após sua promulgação seriam considerados livres. No mesmo ano, Machado de Assis publicou um conto pouco conhecido que narra a história da escrava Mariana, tratada quase como filha pela família de seu senhor, exceto em momentos de visitas e na hora da refeição, o que revelava as barreiras sociais impostas pela escravidão.

Contexto do conto e a situação de Mariana

No conto, Mariana se apaixona por Coutinho, um jovem da família, mas sabe que a relação é impossível devido à rígida hierarquia social. Enquanto ela retribui esse amor com reconhecimento e afeto, ele a vê com interesse sexual e mantém um compromisso de casamento com outra mulher da mesma classe social. Quando Mariana foge após adoecer, a percepção da família muda, de carinho para indignação, ressaltando a rigidez dos papéis sociais.

Reflexões sobre a desigualdade social atual

O autor do artigo lembra que, apesar da proximidade física entre diferentes classes sociais, a distância social permanece evidente, com muitos servindo em ambientes frequentados por classes médias e altas, geralmente marcados pela predominância de pessoas brancas. A indiferença ou o paternalismo disfarçado mantêm as barreiras sociais, que muitas vezes são reforçadas pelo discurso meritocrático que ignora as desigualdades históricas e estruturais.

Desafios contemporâneos e legado da escravidão

O artigo destaca que essas desigualdades raciais e sociais derivadas da escravidão ainda são visíveis hoje, mesmo com o fim da violência física direta. O desafio urgente é superar esses papéis sociais delimitados pela cor da pele e garantir igualdade real de oportunidades e respeito.

Histórias e ensinamentos culturais

O texto ainda traz uma anedota de Ariano Suassuna, que ilustra diferenças culturais e sociais na percepção de mundo entre classes distintas, e uma homenagem à cantora Preta Gil, símbolo de força e luta, cuja memória inspira a continuidade da busca por justiça e igualdade.