Saúl Ñíguez, reforço do Flamengo na atual janela de transferências, chega ao clube depois de enfrentar períodos difíceis na Europa, tanto em termos de desempenho quanto de saúde mental. Ídolo do Atlético de Madrid, o meio-campista espanhol de 30 anos passou por empréstimos e busca recuperar sua melhor forma física e emocional.

Trajetória recente na Europa

Com mais de 400 partidas pelo Atlético de Madrid, Saúl perdeu espaço na equipe principal a partir da temporada 2021/22, quando foi emprestado ao Chelsea, na Inglaterra, na tentativa de recuperar seu rendimento. No entanto, disputou apenas 23 jogos e sofreu críticas pela dificuldade de adaptação à Premier League.

Nas duas temporadas seguintes, voltou ao Atlético, atuando como reserva e sendo acionado em momentos de lesões no elenco. Recentemente, foi emprestado ao Sevilla, onde participou de 26 partidas, lidando com contusões. Apesar disso, contribuiu com um gol e seis assistências, ajudando o time a evitar o rebaixamento na penúltima rodada de La Liga.

Impacto psicológico e escolhas profissionais

Javi Amaro, jornalista espanhol do "Marca", destacou que Saúl enfrentou problemas de adaptação à nova posição em campo e dificuldades psicológicas, que influenciaram seu desempenho. "Ele nunca se sentiu confortável na nova posição que lhe foi atribuída, à esquerda, onde treinava. Ele também passou por situações difíceis, psicologicamente falando, e isso impactou severamente seu futuro a curto prazo." Amaro ainda criticou as decisões tomadas, especialmente a do Chelsea, que prejudicaram a carreira do jogador.

O jornalista argentino Marcos Durán, do "Relevo", reforçou que o declínio do atleta esteve ligado a fatores mentais e físicos, além da incompatibilidade com o alto salário recebido e o desempenho apresentado. "Saúl era um jogador muito importante devido à sua velocidade, força e capacidade de entrar na área. Ele perdeu isso e não estava à altura do Atlético."

Enfrentamento da depressão

O meio-campista enfrentou episódios de depressão nos últimos anos. Em 2021, próximo ao Dia Mundial de Combate à Depressão, Saúl ressaltou a importância do apoio psicológico e do trabalho diário para superar as dificuldades. "Isso ajuda como tudo, mas o que conta é o trabalho diário, não desanimar e o trabalho com pessoas de fora do clube. Não é apenas trabalho físico, mas de muitas maneiras."

Ele destacou ainda o impacto do futebol na vida pessoal: "Futebol não é só 11 jogadores correndo atrás da bola; é sentido muito aqui. O que acontece em campo se reflete na sua família, nos seus amigos e na sua relação com o mundo… É complicado quando as coisas não estão indo como você quer, e você trabalha duro, e mesmo assim elas não estão indo como você quer." Saúl agradeceu o apoio das pessoas positivas ao seu redor e dos torcedores que lhe deram suporte em momentos difíceis.

Adaptação ao futebol brasileiro e expectativas

Saúl Ñíguez terá como treinador no Flamengo Filipe Luís, seu ex-companheiro no Atlético de Madrid, que participou das negociações e da decisão do jogador de vir ao Brasil. Segundo Javi Amaro, a adaptação ao futebol brasileiro é um desafio similar ao enfrentado na Inglaterra, mas fundamental para que o jogador se sinta valorizado e possa retomar o alto nível. "Desde que chegou ao Sevilla, ele mostrou que estava investido no projeto e no clube, e isso o ajudou a ter um desempenho em algumas partidas como esperado. Se o clube que o contratar conseguir fazê-lo se sentir importante, acho que ele poderá jogar em um nível muito alto novamente."

Marcos Durán acredita que a mudança para o Brasil pode ser positiva: "Se o Filipe lhe der confiança e ele responder fisicamente, pode se adaptar bem ao time. O Flamengo é um time que aspira a ganhar tudo e pode contribuir com sua experiência."