Com mais de uma década desde a promulgação da Lei de Cotas e mais de 20 anos desde a implementação de políticas afirmativas no Brasil, estas continuam a ser aprimoradas para beneficiar grupos historicamente marginalizados, tanto no ensino superior quanto no mercado de trabalho. Diante desse contexto, os sociólogos Luiz Augusto Campos e Marcia Lima organizam um estudo sobre o tema no livro “O impacto das cotas”, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2025.

Contexto do Livro

Este trabalho faz parte da coleção Cultura negra e identidades, publicada pela editora Autêntica. Campos e Lima, que também são coordenadores do Consórcio de Acompanhamento das Ações Afirmativas, compilaram diversas pesquisas científicas realizadas por especialistas na área, além de contar com as contribuições de mais de quarenta estudiosos sobre ações afirmativas. O livro investiga a implementação e as repercussões sociais, educacionais e raciais das cotas, analisando as transformações no ensino superior decorrentes dessa política.

Desafios da Política de Cotas

Em entrevista, Marcia Lima destacou que um dos principais desafios enfrentados pela política de cotas é a permanência dos alunos cotistas no ensino superior, uma vez que a evasão ainda é um problema significativo. "Retomamos com o atual governo essa pauta. É necessário haver vários projetos e programas de permanência nas universidades, mas essa medida enfrenta dificuldades de implementação devido a questões orçamentárias. Não é uma política barata", afirmou.

Luiz Augusto Campos também mencionou a dificuldade de integrar essas políticas afirmativas ao mercado de trabalho, onde a discriminação é mais prevalente. Ele enfatizou que a maior parte dos países que adotam ações afirmativas aplica-as no setor de trabalho, mas o Brasil ainda é cauteloso nesse aspecto.

O Futuro das Cotas

Marcia Lima mencionou ainda que a Lei de Cotas passou por uma reformulação em 2023 sob o governo Lula, embora os desafios de inserção no mercado de trabalho persistam. "Estamos avançando em mudanças na política de cotas no serviço público. A Lei reformulada foi aprovada na Câmara, apenas falta o Senado. O setor privado, por sua vez, tem adotado algumas políticas de diversidade, especialmente após o surgimento de casos de violência racista, como o do Carrefour e a morte de George Floyd nos EUA, que adensaram o debate sobre a inclusão racial nas empresas", declarou.

Inclusão e Acolhimento nas Universidades

Por fim, Campos ressaltou que a inclusão dos cotistas nas universidades deve ser acompanhada de esforços para o acolhimento adequado. "As universidades precisam não apenas incluir, mas também acolher os estudantes cotistas. Isso envolve uma mudança estrutural nas práticas universitárias, que historicamente serviram para reproduzir elites. Portanto, é fundamental que haja um compromisso das instituições com políticas que assegurem um ambiente mais inclusivo e acolhedor, desde a reformulação curricular até a preparação dos professores para lidar com a diversidade", concluiu.